Monday, October 30, 2006

Si se ha de escribir correctamente poesía
no basta con sentirse desfallecer en el jardín
bajo el peso concertado del alma o lo que fuere
y del célebre crepúsculo o lo que fuere.
El corazón es pobre de vocabulario.
Su laberinto: un juego para atrasados mentales
en que da risa verlo moverse como un buey
un lector integral de novelas por entrega.
Desde el momento en que coge el violín
ni siquiera el vals triste de Sibelius
permanece en la sala que se llena de tango.

Salvo las honrosas excepciones las poetisas uruguayas
todavía confunden la poesía con el baile
en una mórbida quinta de recreo,
o la confunden con el sexo o la confunden con la muerte.

Si se ha de escribir correctamente poesía
en cualquier caso hay que tomarlo con calma.
Lo primero de todo: sentarse y madurar.
El odio prematuro a la literatura
puede ser de utilidad para no pasar en el ejército
por maricón, pero el mismo Rimbaud
que probó que la odiaba fue un ratón de biblioteca,
y esa náusea gloriosa le vino de roerla.

Se juega al ajedrez
con las palabras hasta para aullar.
Equilibrio inestable de la tinta y la sangre
que debes mantener de un verso a otro
so pena de romperte los papeles del alma.
Muerte, locura y sueño son otras tantas piezas
de marfil y de cuerno o lo que fuere;
lo importante es moverlas en el jardín a cuadros
de manera que el peón que baila con la reina
no le perdone el menor paso en falso.

Quienes insisten en llamar a las cosas por sus nombres
como si fueran claras y sencillas
las llenan simplemente de nuevos ornamentos.
No las expresan, giran en torno al diccionario,
inutilizan más y más el lenguaje,
las llaman por sus nombres y ellas responden por sus nombres
pero se nos desnudan en los parajes oscuros.

Salvo honrosas excepciones ya no hay grandes poetas
que parezcan vendedores viajeros
y predican o actúan e instalan su negocio
en dios o en la taquilla de un teatro de provincia.
Ningún Misterio: trucos del lenguaje.
Discursos, oraciones, juegos de sobremesa
todas estas cositas por las que vamos tirando.

Si se ha de escribir correctamente poesía
no estaría de más bajar un poco el tono
sin adoptar por ello un silencio monolítico
ni decidirse por la murmuración.
Es un pez o algo así lo que esperamos pescar,
algo de vida, rápido, que se confunde con la sombra
y no la sombra misma ni el Leviatán entero.
Es algo que merezca recordarse
por alguna razón parecida a la nada
pero que no es la nada ni el Leviatán entero
ni exactamente un zapato ni una dentadura postiza.

Enrique Lihn


Um achado, este poema de im site chamado poesia.com, que a gente assina e recebe um poema por dia.

Saturday, October 28, 2006

Venta como praia neste quase deserto. Deito na rede, leio os jornais do dia, alguns em desespero por a verdade não bater com suas concepções de realidade (sempre assim, os perdedores), daqui a pouco como uma lasagna feita num ponto ideal por Val, minha fiel trabalhadora do lar.

Thursday, October 19, 2006

O quadro aí embaixo é meu, e é uma leitura de A Expulsão do Paraíso, de Masaccio.


Nel mezzzo del camin

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma dos sonhos povoados eu tinha…

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

(Olavo Bilac)

Sunday, October 15, 2006

Num domingo de manhã, baixa, ou não baixa, vem da noite e continua essa distensão do tempo para aquém dele mesmo.




Às vezes um homem se levanta do jantar
e sai porta afora, e continua andando,
por causa de uma igreja
em algum lugar do Oriente.

E seus filhos rezam por ele como se estivesse morto.
E outro homem, que permanece em sua própria casa,
lá morre, dentro dos pratos e copos,
para que seus filhos tenham que sair para o mundo
atrás da mesma igreja, que ele esqueceu.

Rainer Maria Rilke

Saturday, October 14, 2006

As paixões e seus punhais que nos dilaceram fazendo com que sangremos lenta e inexoravelmente.
Acordar assim cedo, com uma memória de desastre.
Não ter mais vontade de dormir. Sair arrumando a casa, discos, livros, lavar a louça, passar o tempo, olhar dentro do guarda roupa e deixar tudo como está.






Canto do Brasileiro Augusto Frederico Schmidt



Não quero mais o amor,

Nem mais quero cantar a minha terra.

Me perco neste mundo

Não quero mais o Brasil

Não quero mais geografia

Nem pitoresco.



Quero é perder-me no mundo

Para fugir do mundo.



As estradas são largas

As estradas se estendem

Me falta é coragem de caminhar.



Sou uma confissão fraca

Sou uma confissão triste

Quem compreenderá meu coração?



O silêncio noturno me embala

Nem grito. Nem sou.

Não quero me apegar nunca mais

Não quero nunca mais.

Wednesday, October 11, 2006

A musa nas sombras.
Aqui, numa das esquinas mais bonitas de São Paulo, olhando o parque da Sabesp da janela do estúdio de meu grande mano Zabarov, o manobrowser.com.br, penso sobre as musas e as sombras. E os contrastes, e de como o movimento constantes dos carros e onibus dobrando a curva compoem um visual mais do que cinematográfico - eu diria, almatográfico, se o vernáculo me permite. Tudo brilha discretamente e sem opacidade. Há calma e transparência neste anoitecer quase epifania. Aqui eu me uno fiat lux andando numa vida mille, simples, que requer pouco combustível para criar e atravessar as quebradas. Ando e estou simples como um lápis, um sino de igreja. Depois de muito tentar, acendi de madrugada um fósforo que durou até eu rezar toda uma Ave Maria. E dormi, e durmo, e sonho.

Thursday, October 05, 2006

Somos todos poetas



Assisto em mim a um desdobrar de planos.
as mãos vêem, os olhos ouvem, o cérebro se move,
A luz desce das origens através dos tempos
E caminha desde já
Na frente dos meus sucessores.
Companheiro,
Eu sou tu, sou membro do teu corpo e adubo da tua alma.
Sou todos e sou um,
Sou responsável pela lepra do leproso e pela órbita vazia do cego,
Pelos gritos isolados que não entraram no coro.
Sou responsável pelas auroras que não se levantam
E pela angústia que cresce dia a dia.

(Murilo Mendes)

Sunday, October 01, 2006

Meu pai e meu coração


Meu pai, o grande, imenso Clodoaldo Mendonça, foi o homem que me despertou a paixão pela literatura. Finalmente, tenho um retrato dele, pouco mais de um ano antes de sua morte, em meu criado-mudo, e sempre olho para ele antes de dormir. Muita saudade de um homem que pouco se comunicou mas que com seu olhar e sua doçura sempre soube dizer o que era relevante. Creio que seu espírito de alguma forma permeia tudo que faço. Me ensinou também a pegar gosto pela música, de todosos tipos, de Trio los Panchos a Beethoven,
Hoje me lembrei de uns versos de um cantor que sempre freqüentava a vitrola de casa, Altemar Dutra:
Que culpa tenho eu, se tudo se perdeu, e tu quiseste assim, e então que queres tu de mim, se até o pranto que chorei, se foi por ti, não sei.
Este se foi por ti não sei não é brincadeira. Alguém aí sabe porque sempre chora?