Tuesday, June 19, 2012


Como costurar pano esgarçado e dele fazer tecido novo.
Como ver no fundo do poço escuro os medos e quão rasos eram todos os temores.
Como exercitar com leveza o que estava paralisado,
Pássaro que chacoalha a umidade de suas asas e alça vôo,
rumo ao céu turvo atrás do qual sempre estará o céu, tão claro e limpo.
De lado eu deixo o que deve ficar de banda,
De frente encaro tua realidade súbita e indelével,
De todo modo amo tudo que em ti vejo
E meu coração salta como se salta do ônibus andando,
Movimento somado a movimento,
Corpos, palavras que se entrelaçam,
Fonte de onde bebo em grandes goles minha vida.

São Paulo, 18 de junho de 2012

A gente tem de sussurrar,
falar perto da pele,
a única instäncia que no final das contas há de ouvir.
Temos de medir a temperatura da água
com a insensibilidade de nossos cotovelos,
como alguém prestes a banhar a infância.
Precisamos estar atentos, dormência vigilante das corujas,
a todos os sinais no meio de cada noite.
De resto, que Deus nos abençoe.

São Paulo, 18.6.2012

Wednesday, June 06, 2012

Teu vapor move minha locomotiva.
Teu calor impele cada pensamento e cada sentimento meu,
e eu desbravo montanhas, atravesso mares encapelados, caminhos tresandados,
só para estar sempre perto de você.
Tu me ajuntas todo, em cada pequena instância deste grande tempo.
Teu hálito move meu mundo.

São Paulo, 5.6.2012
Somos como dois planetas cuja natureza e órbitas distintas se atraem.
Somos este universo que nos encaminha para nossos braços,
esta eterna poeira cósmica, esta quântica e incerta vontade de viver.

5.6.2012

Tuesday, June 05, 2012

Ainda bem

Ainda bem que não sou uma pessoa só,
para estar com as tantas pessoas que tu és.
Ainda bem que nisso somos abençoados,
a última mágica divina, o que nos conduz ao nosso abraço.
Ainda bem que não me preparei para nada:
apenas segui os signos da vida para nos recebermos,
e que Deus preze e guarde nossa quase infantil ousadia.
Ainda bem que tão por acaso você chegou em minha vida,
uma quieta sinfonia em meio ao alarido do concerto maior onde existimos.
Ainda bem que você existe, porque eu também.
Nenúfares pairam amarelos sobre os lagos,
rosas amarelas brotam em todos os jardins,
e nós aprendemos a escrever esta terna música do amanhã.

São Paulo, 16.5. 2012

Sunday, June 03, 2012

Meu inesperado e benfazejo furacão:
você me ensinou a viver com estruturas semoventes,
sem nada de chão embaixo dos meus pés,
como se fosse mesmo vivendo de brisa,
a brisa mesma que você assopra vinda de seu alto mar.
Você me ensinou a enfunar as velas para Ítaca, enfim.
Você me ensinou o partir e o retornar
porque afinal meu coração tem uma morada.

3.6.2012