Wednesday, February 17, 2010

Um sangue, outro

Se cada um de mim se fatiasse na balança
Eu nem mesmo saberia jamais de onde viria o maior peso.
Se um dia eu pudesse morrer de tudo
Eu certamente de tudo morreria.
Parece que um dia eu perdi meu passo
E nada há mais que me console.
Estou feito balão solto no ar em festa de criança,
A desatinar de tudo o que faz sentido.
Meu coração não para de sangrar, deve ser de quando eu nasci.

Friday, February 12, 2010

Coisas que não existem

A vida linear não existe.
Não existe nada linear.
Nem uma régua,
Ou a idéia que tenhamos dela.
Nem molduras de quadros, tamanhos de livros,
Prumos, telhados, marcos supostamente
Bem postados nas estradas,
Virgindades, finais de filmes onde
Tudo acaba bem, ou mal.
Só existe o sangue
Cuja pulsação varia como
Os marcadores em aparelhos de hospital.
Nem mapas que tentam tornar plana uma terra
Que padece de sua circularidade.
Pulando eternamente fora de suas rotas
Partículas ínfimas geram luz
Como a prova única de estarmos vivos.
Aí estão nossas esperanças,
lágrimas que brotam de uma tão simples percepção
Que nem custa mas também nada vale explicar.
O sal existe.
São cristais, pedras pequenas, sabores,
Sem o qual tudo seria o alimento
Da vida de hospital
De moribundos.
Eu me recuso
A não poder ser doido como o velho a quem atiram pedras.
Eu me recuso a ser previsível como
Honestamente jamais poderia ser.
Eu me entrego a um tempo que mal se sabe
Por não ter em natureza como se saber.
Troveja, chove, e eu navego como o barco do cozinheiro
Bem fazendo meu prato na tempestade.