Wednesday, June 15, 2011

Sargaços

Tripulações, corpos putrefatos,
viajantes de rotas insensatas,
o destino que o adernar soçobra,
florescências de algas em luzes mal tramadas
tudo que em torno se poderia chamar saudade.

14/6/2011

Wednesday, May 18, 2011

Umbra Umbela

Debaixo de teu guarda-sombras estão:
Borrascas, tempestades,
Corpo cheirando após a chuva,
Uma nota de um real amarfanhada onde alguém escreveu:
Que Deus me proteja, em quase incompreensível garatuja;
Um luar que range como se estivesse enferrujado
de tanto ficar parado no mesmo lugar,
A fertilidade de teu ventre,
Pirilampos tingindo todas as tuas noites mal dormidas,
Cupins a desesculpir teu leito,
As ilusões perdidas, os sísmicos abalos
que as fraturas de teu solo provocam,
O hálito neutro da manhã tornado vento
E que o braseiro de teus lábios traduz no mais
desejado beijo de uma vida;
fotografias desbotadas, notas dissonantes, harmonias tortas
a se compor disparatadas e soar como um outono,
folhas a cair milimetricamente ao pé dos plátanos
(que nem sequer existem fora dos romances),
florilégios de uma corte decadente e distante e perdida
que olhos num esgar decifram em hieroglifos,
sentidos múltiplos da mesma escrita;
mesas de bares, beiras de lagos e afetos,
arquiteturas que fazem olhar os céus
onde as constelações se descortinam a não nos revelar nada;
dedos finos, longos, a se incrustar em minhas costas,
em suas doces trilhas indeléveis;
arfar que se desconhecia em noites surpresas
da magia de gozos indecifráveis;
murmúrios, sussurros, palavras ditas que teimam
em jamais se repetir, inclusão de auroras, membros dormentes, peixes olhando paredes de aquários acostumados a nada transpor,
desenhos animados, fantasias, balões pisados no fim da festa,
comemoração que nunca finda, bolos dormindo nas geladeiras para o café da manhã que não virá,
eu tremeluzo, me inflo e abundo
nesta animação tanta e inúmera que tu és.


Zé Eduardo

29/9/2007

Friday, March 04, 2011

Quase tudo

Quase todo mundo que a gente achava que existia
não existe.
Quase todas as nuvens cinzas que a gente achava que iam acabar em chuva
não acabaram.
Quase toda a luz do sol que ia secar a roupa do varal ficou por trás das mesmas nuvens.
Quase a vida toda ficou dependurada em metros de corda fina,
botada pra secar desta umidade eterna.

4/3/2011

Tuesday, February 22, 2011

Poema para Cinthia

Falsa magra de olhos redondos
como as improváveis esferas estelares,
ela se aproximou de mim oferecendo flores.
Eu não comprei nenhuma.
Voz de sereia a perturbar meu sono
e me fazer rever de novo tudo que era vida.
Eu não ouvi.
Mulher de vento e múltiplos mundos,
a abrir meus olhos cansados.
E eu não vi.
Tempestade, aguaceiro, água fluindo para o mar,
redemoinhos, furacões a invadir minha pátria
como os mais naturais dos naturais desastres.
Mas isto eu sinto.

21/2/2011