Monday, July 30, 2007

Teu sal



















O sal que eu tiro de ti
É tudo que correstes
E vens descansar em meu corpo.
O sal que eu tiro de ti
É tua uniforme pele,
São teus cílios
A piscar como cortinas
Dividindo o tempo.
Onde havia antes não te havia
E onde há hoje há de estar.


30/7/2007

Tuesday, July 17, 2007

O primeiro poema para Y

















Fímbrias, limiares, interstícios.
Poesia que se desnuda pra te receber.
E são tão outras tuas palavras
Como és assim dest’outro mundo,
Universo que abarcas na cortina de
teus cílios que orientalmente abres,
inédita, pequena, inusitada
benvinda mulher,
a entrar em minha vida sem convite,
sem nem mesmo o gesto de bater à porta,
assim correndo atrás de um lento tempo
a se traduzir na voracidade com que te desejo,
no ritmo em que pareces apreender-me
enovelado em ti a tecer
esta disparatada coisa que é a vida.

Zé Eduardo, 17/7/2007

Saturday, July 14, 2007

Eu te amo (3)
















E teu corpo rangia
como nau que adernava
a circundar o trópico.
E teu corpo cedia
ao imoderado vento
a soprar tua pele como
teu duros cabelos me tocavam
a raspar de mim tanto verniz de tempo.
Quantos de mim não foram
tragados felizes em tua voragem
e todos estes eus eram sempre sempre apenas um,
diversos tantos quanto diversas fostes
até o extremo dos desejos vários.
Quantos de nós estremecemos
nos ritos de corpos e rangemos
e molhamos tudo que os olhos vertem
e sempre, e ainda, sentem.

Zé Eduardo
10/07/2007

Friday, July 06, 2007

Quem faz estas mudanças?














Quem faz estas mudancas?
Atiro uma flecha à direita
E ela cai à esquerda.
Corro atrás de um cervo e me vejo
Perseguido por um porco.
Planejo conseguir o que quero
E termino na prisão.
Cavo armadilhas para os outros
E caio nelas.

Eu deveria suspeitar
Do que eu quero.

(Rumi)