Wednesday, April 11, 2007

Sangue



















Teu sangue escorre em meus lençóis
A borrar de vermelho orientais desenhos
De nossa cama tão desarrumada
De nosso sexo tão desarrumado
Nosso despertar onde o mundo imagina
A curva de tudo que volta a si mesma
Nossos reparos, esperanças,
Desconcertadas harmonias que aprendemos a fazer com nossos gestos.
Teu sangue escorre em minha língua,
Revelação de temas inconsúteis,
Primavera que me entrega tua flor,
Doce, álacre, forte, perfume mesmo da fragilidade.
Teu sangue chove em mim, temporal a inundar meu corpo,
E eu me deixo banhar na cachoeira descoberta enfim
Após tanto planalto e plenilúnio.
(as constelações mal te adivinham,
tua clareza, confusão estelar a lhes fazer
sombra nas noites em que te pressinto.)
E tu vens e me cavalga tresloucada amazona
Seios fartos a desvendar caminhos,
Luz de teus peitos a plantar um ninho
Que ave alguma jamais descuidará.


Zé Eduardo

SP, 11/04/2007

Testamento

Amor mio dos puntos, se cayó
la voluntad de seguir siendo, salgo
enhebrada de tu saliva aún e me
aturde dejar de perseguirte, tú que fuiste
llama en la oreja e calidez de un dedo
locura de apuñalamiento certero, ensayo
noble que se caracterizaba por la insistencia
del tema como fondo alegorico,
certerísima me quedo donde estoy, ¿qué
és mas lejos? ¿ Lo que sigue
permaneciendo? Me diseco las manos
para no tener que hacer escrutinios
con las caricias insentidas. Tengo
que escribir aún otro poema
mi sentencia y un método
para olvidarme de tu lengua.

(Concha García)

Gripe


















Meu amor está trancado na vitrina.
Cerro os punhos esmurro seco o vidro mas não adianta nada:
A blindada transparência apenas me devolve sua dureza
E limpo num pano amarrotado o sangue que brota das minhas juntas.
Espremo o tecido vermelho na calçada, e curiosos se juntam para ver.
Ó moço, o que deu tal destempero? Ó moço, tu quer roubar os doces?
Retiro o sal dos olhos e miro os doces na vitrina.
Não é o amor, são doces.
Meus olhos é que andam confundindo tudo.
Meus olhos é que desenxergam e me desencaminham,
Mundo malcriado a me deixar assim febril.

Zé Eduardo
São Paulo
11/04/2007

Saturday, April 07, 2007

O rio
















O rio vem serpenteando
e dentro dele a cobra troca a pele.
O peixe pula e espadana
no brilho onde borbulha a corredeira.
As margens olham tudo, ensimesmadas.
Entre elas água e seixo,
leito onde dorme a turmalina.
Lá vem o mar, e tudo vira tudo e nada mais.

(zé eduardo)

Thursday, April 05, 2007