Ser poeta
Ser poeta é uma merda,
só faz a gente sofrer.
As musas vão e vêm
Como se a gente fosse a porta giratória
de um hotel onde eventualmente se pernoita,
e onde deixam em vermelho incadescente
seus registros na portaria.
Se enredam na insubstância de nossas palavras
e nós viramos léxico arrumadinho, estrambótico, romântico,
para o deleite dos álbuns de recordações
deitados quietos nos escuros
enquanto elas, amadas,
vestidas dos pitéus finos de apaixonados adjetivos
despem-se em leitos alhures
sangrando as carnes e quebrando os ossos
de que elas não supõem
que somos também feitos.
Ser poeta é uma merda,
Preferiria a calma indiferença de uma concha,
um toco, um taco de assoalho.
Mas não adianta.
Ser poeta é uma merda.