Friday, December 29, 2006

Vapor Barato




Vapor Barato
(Jards Macalé e Wally Salomão)

Sim, eu estou tão cansado, mas não pra dizer
Que eu não acredito mais em você
Com minhas calças vermelhas
Meu casaco de general cheio de anéis
Eu vou descendo por todas as ruas
Eu vou tomar aquele velho navio
Eu vou tomar aquele velho navio
Aquele velho navio
Eu não preciso de muito dinheiro
Graças a Deus
E não importa,....e não importa Não!

Oh minha honey
Baby, baby, baby.......Honey, Baby

Sim eu estou cansado mas não pra dizer
Que eu estou indo embora
Talvez eu volte um dia..eu volto, quem sabe
Mas eu preciso
Eu preciso esquecê-la
A minha grande a minha pequena
A minha imensa obsessão
A minha grande obsessão

Oh minha honey
Baby, baby, baby.......Honey, Baby

Tuesday, December 26, 2006

Casida del llanto

He cerrado mi balcón
por que no quiero oír el llanto
pero por detrás de los grises muros
no se oye otra cosa que el llanto.

Hay muy pocos ángeles que canten,
hay muy pocos perros que ladren,
mis violines caben en la palma de mi mano.

Pero el llanto es un perro inmenso,
el llanto es un ángel inmenso,
el llanto es un violín inmenso,
las lágrimas amordazan al viento,
no se oye otra cosa que el llanto.


(Federico Garcia Lorca)

Friday, December 22, 2006

Cloudy days, bright days

Danza de murte – fragmento

2
La noche, la calle, el farol, la farmácia,
Una luz mortecina y absurda.
Aunque vivieras outro cuarto de siglo
Todo seguirá igual. No hay salida.

Morirás, volverás a comenzarlo todo de nuevo
Y todo se repetirá como antes.
La noche, las ondulaciones frias del canal,
La farmácia, la calle, el farol.

(Alexander Blok, 1912)

Wednesday, December 20, 2006

Duas reflexões sobre o passado recente

ANJO EXTERMINADO
(Jards Macalé/Waly Salomão)

Quando você passa três, quatro dias desaparecida
Me queimo num fogo louco de paixão
Ou você faz de mim alto-relevo no seu coração
Ou não vou mais topar ficar deitado
Um moço solitário, poeta benquisto
Até você tornar doente, cansada, acabada
Das curtições otárias
Quando você passa três, quatro dias desaparecida
Subo desço, desço subo escadas
Apago acendo a luz do quarto
Fecho abro janelas sobre a Guanabara
Já não penso mais em nada
Meu olhar vara vasculha a madrugada
Anjo exterminado
Olho o relógio iluminado anúncios luminosos
Luzes da cidade, estrelas do céu
Me queimo num fogo louco de paixão
Anjo abatido
Planejo lhe abandonar
Pois sei que você acaba sempre por tornar ao meu lar
Mesmo porque não tem outro lugar onde parar



MAL SECRETO
)Jards Macalé/Wally Salomão)


Não choro
Meu segredo é que sou um rapaz esforçado
Fico parado, calado, quieto
Não corro, não choro, não converso
Massacro meu medo, mascaro minha dor
Já sei sofrer
Não preciso de gente que me oriente

Se você me pergunta: "Como vai?"
Respondo sempre igual: "Tudo legal!"
Mas quando você vai embora
Morro meu rosto no espelho
Minha alma chora

Vejo o Rio de Janeiro
O morro não salvo, não mudo
Meu sujo olho vermelho
Não fico parado, não fico calado, não fico quieto
Eu choro, converso
E tudo o mais jogo num verso
Intitulado mal secreto

Tuesday, December 19, 2006

Torta Torta

Às vezes te ofereço uma torta torta na vasilha
desmanchada além de sua estranheza.
Às vezes minha impropriedade
empilha meu cansaço ao seu.
Às vezes, toco tambores
quando o que se pede
é tua sincera sonoridade de oboé.
Às vezes falho, como falhas provocam terremotos.
Eu sou assim, mortal como uma flecha,
e transitória, cujo alvo é o nada.

Eu sou a rota sola
de um sapato roto e furado
em seu caminhar de desatino.
Eu sou aquele que persegue
inconcretudes marmóreas,
nuvens nunca evanescentes,
destino de alvoroço.
Eu sou o alvoroço
e comigo vorazmente trago tudo.
Eu não sou a luz, a verdade e a vida.
Eu não sou promessa de nada.
Eu estou chegando à conclusão de que
há sempre escuros olhares por trás do escuro.
……
Eu faço uma prece como quem compra cenouras numa feira.
Eu quero que o gosto não cubra outro gosto
e que tudo na língua seja novo:
paladar, primor, palavra, primavera.

(zé eduardo)

Sunday, December 17, 2006

HURT

I hurt myself today
to see if I still feel
I focus on the pain
the only thing that's real
the needle tears a hole
the old familiar sting
try to kill it all away
but I remember everything
what have I become?
my sweetest friend
everyone I know
goes away in the end
and you could have it all
my empire of dirt

I will let you down
I will make you hurt

I wear this crown of thorns
upon my liar's chair
full of broken thoughts
I cannot repair
beneath the stains of time
the feelings disappear
you are someone else
I am still right here

what have I become?
my sweetest friend
everyone I know
goes away in the end
and you could have it all
my empire of dirt

I will let you down
I will make you hurt

if I could start again
a million miles away
I would keep myself
I would find a way

Saturday, December 09, 2006

Infância








Como se espíritos fossem
(e hoje espíritos são)
mamãe e seu pai pairam no ar
ao som da vitrola que martela, sincopadamente,
a valsa do imperador de uma distante Áustria.
E meu sangue borbulha em suas origens
e meu coração dança em três por quatro
como um pequeno instantanêo do passado.
Lá estou eu, menino, sempre imerso em solidão
(que parece ter se instaurado em mim como destino).
A tia serve o ponche na antiga jarra
(única testemunha de duvidoso fausto),
pia batismal cristã, dionisíaca,
o sincretismo da pipoca e do prazer
da criança que pode ir dormir muito tarde
que alguém cuidará de que haja amanhã para amanhecer.
Era tudo tão singelo,
mesmo os homens atravessando a madrugada no baralho
enquanto as mulheres desfiavam entre gargalhadas suas mazelas,
tudo tão doce como fios de ovos cobiçados antes da ceia.
Hoje não há mais amanhã.
Hoje ninguém garante o sofá onde dormi ouvindo as vozes evanescendo como mágica.
Hoje estou taciturno como a chuva que respinga o dia todo em um lamento.
Hoje eu lamento que haja a chuva onde antes havia, de manhãzinha, a garoa.
O que eu aprendo, hoje, é mais uma apreensão que o aprendido.
O bate-estacas abala fundações de uma alma que nunca será terminada.

Praia do Engenho, 15 de Julho de 2000

Tuesday, December 05, 2006

Nostalgia





Chão de Estrelas

Minha vida era um palco iluminado
E eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações
Meu barracão lá no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do Sol a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher, pomba-rola que voou
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional.
A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
E tu pisavas nos astros distraída
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão
(Orestes Barbosa)