Tuesday, December 19, 2006

Torta Torta

Às vezes te ofereço uma torta torta na vasilha
desmanchada além de sua estranheza.
Às vezes minha impropriedade
empilha meu cansaço ao seu.
Às vezes, toco tambores
quando o que se pede
é tua sincera sonoridade de oboé.
Às vezes falho, como falhas provocam terremotos.
Eu sou assim, mortal como uma flecha,
e transitória, cujo alvo é o nada.

Eu sou a rota sola
de um sapato roto e furado
em seu caminhar de desatino.
Eu sou aquele que persegue
inconcretudes marmóreas,
nuvens nunca evanescentes,
destino de alvoroço.
Eu sou o alvoroço
e comigo vorazmente trago tudo.
Eu não sou a luz, a verdade e a vida.
Eu não sou promessa de nada.
Eu estou chegando à conclusão de que
há sempre escuros olhares por trás do escuro.
……
Eu faço uma prece como quem compra cenouras numa feira.
Eu quero que o gosto não cubra outro gosto
e que tudo na língua seja novo:
paladar, primor, palavra, primavera.

(zé eduardo)

1 comment:

  1. Alívio Final

    Acho que estou morta
    Sinto-me toda torta
    Nessa carcaça de pele

    Nada me impele à frente
    Nada me surpeende
    Nada me satisfaz

    Devo esta mesmo morta
    Toda torta nessa farofa
    Em que se tornou a minha vida
    Pra onde olho não vejo saída
    Sem ter que voltar atrás

    Agora também tanto faz
    Estou morta
    E o melhor de tudo
    Possa bater na porta
    Do meu túmulo
    E descansar em paz!

    È Deus?
    Não! Não é Deus
    Esse cara

    Tem jeito
    De anjo na cara
    De santo na fala
    E de cão nessa tara

    È Deus?
    Não! Nem se compara
    Foi só mais um cara

    Abr.

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