Às vezes te ofereço uma torta torta na vasilha
desmanchada além de sua estranheza.
Às vezes minha impropriedade
empilha meu cansaço ao seu.
Às vezes, toco tambores
quando o que se pede
é tua sincera sonoridade de oboé.
Às vezes falho, como falhas provocam terremotos.
Eu sou assim, mortal como uma flecha,
e transitória, cujo alvo é o nada.
Eu sou a rota sola
de um sapato roto e furado
em seu caminhar de desatino.
Eu sou aquele que persegue
inconcretudes marmóreas,
nuvens nunca evanescentes,
destino de alvoroço.
Eu sou o alvoroço
e comigo vorazmente trago tudo.
Eu não sou a luz, a verdade e a vida.
Eu não sou promessa de nada.
Eu estou chegando à conclusão de que
há sempre escuros olhares por trás do escuro.
……
Eu faço uma prece como quem compra cenouras numa feira.
Eu quero que o gosto não cubra outro gosto
e que tudo na língua seja novo:
paladar, primor, palavra, primavera.
(zé eduardo)
Alívio Final
ReplyDeleteAcho que estou morta
Sinto-me toda torta
Nessa carcaça de pele
Nada me impele à frente
Nada me surpeende
Nada me satisfaz
Devo esta mesmo morta
Toda torta nessa farofa
Em que se tornou a minha vida
Pra onde olho não vejo saída
Sem ter que voltar atrás
Agora também tanto faz
Estou morta
E o melhor de tudo
Possa bater na porta
Do meu túmulo
E descansar em paz!
È Deus?
Não! Não é Deus
Esse cara
Tem jeito
De anjo na cara
De santo na fala
E de cão nessa tara
È Deus?
Não! Nem se compara
Foi só mais um cara
Abr.