Tuesday, February 19, 2008

Neva muito no Líbano

Neva muito hoje no Líbano.
Sempre pareceu a nós praias ensolaradas
E cidades bombardeadas pela insanidade
De um mundo que escolheu – erroneamente –
o poder do estado sobre nós seres pequenos,
amorosos, herdeiros infelizes da ditadura do indivíduo,
revoluções de uma longínqua e enganada Europa.
O indivíduo, esta entidade melhor inexistente,
focilando nos shopping centers
onde se decide a ruptura dos tecidos das almas,
o desastre, os massacres, a plastificação das águas,
gota nenhuma a sobrar das torneiras e das fontes,
nada que mate mais a sede de uma sede que não sabe o que lhe falta,
esta rotina de desejo e frustração, estes dejetos,
estes escombros de onde hoje neva e no verão
há o sol com medo dos mísseis,
há a terra arrasada de onde veio minha mulher
e todos os seus filhos e netos a esperar que um dia
tudo se reconstrua, algo sobreviva à precariedade
de filósofos que ingenuamente pensaram inaugurar
a civilização que um dia julgaram ser essencial,
nossa condenação ao descaso e ao desdenho,
a tumba mesma de onde nossas vozes, oprimidas,
jamais deixarão de gritar.

Zé Eduardo,
10/2/2008

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