Wednesday, July 30, 2008

Poema

A oxidação pousou em minha lingua como o sabor da desaparição.
O esquecimento entrou em minha lingua e nada tive a fazer senão o esquecimento
E não aceitei outro valor além da impossibilidade.
Como um barco calcificado em um país do qual se tirou o mar,
Escutei a rendição de meus ossos depositando-se em descanso;
escutei a rápida fuga dos insetos e a retração da sombra ao ingressar no que restava de mim;
escutei até que a verdade deixou de existir no espaço e em meu espírito
e não pude resistir à perfeição do silêncio.

(Antonio Gamoneda)

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