Os tons de tua pele, as matizes muitas de teus cabelos ruços
e de teus sempre poucos adereços
Fazem um arco-íris que termina sempre em um pote de ouro.
Não o das compras, trocas, transações, mas o dos alquimistas,
O estado último das coisas, a eterna transformação, sol que nunca mais será o mesmo
Ainda que assim pareça todo dia num azul profundo de uma cidade
no topo de algum mundo
E aqueça muito além da epiderme.
O ouro negro da tua fonte
Onde tudo há de se beber.
(Os ouros outros das tuas magias
Das quais o mundo se aproveita
Para nascer o alimento de toda manhã.)
Radiância da tua voz ressoando ao telefone,
Tudo em você tem cor.
Pálida musa, versos do cantar eterno,
Tu vens sempre nesta encontrar de plenitudes,
Estrela que me faz cantar.
Todo tempo tu te reinauguras e me reinaugura,
E prever-te nunca há como.
E é assim, amor meu de toda uma vida,
Que registras o teu brilho
E esmaeces em abandono
Até que nos resgatemos e tudo mais uma vez
Vire poema.
29.11.2007
Thursday, November 29, 2007
Monday, November 05, 2007
A Sagração da Primavera
"Time present and time past
Are both perhaps in time future,
And time future contained in the past"
(T.S. Eliot, Burnt Norton, The Four Quartets)
Noite no hospital.
Mariposas teimam em se fragmentar contra as vidraças.
O ar úmido de uma terra sempre seca, presságio que não vi.
Assim como não vi quem foi que engasgou com o dia, ou com o tempo.
Primeiro de janeiro, e há no ar os anos que não irão jamais passar,
um cheiro que não te pertence e me pertence e me foge.
No guichê me pedem que aguarde, e para isto os guichês foram feitos:
para tirar a senha, adivinhar a hora do atendimento que virá.
Tudo é hora, mesmo o que se pensa fora dela.
O doutor de branco diz que não é nada.
Que observemos. Como se ainda houvesse algo para juntos observarmos.
Não há. Houve. Ou não houve, e volto para casa por um caminho comum
apenas pelo íngreme de um morro, terra, a visão negra do lago abaixo?
E olho o negro do lago abaixo, que logo cederia sua cor ao sentimento.
Olho tudo que foi, até que escolho não olhar mais nada.
Zé Eduardo, 4/11/2007
Are both perhaps in time future,
And time future contained in the past"
(T.S. Eliot, Burnt Norton, The Four Quartets)
Noite no hospital.
Mariposas teimam em se fragmentar contra as vidraças.
O ar úmido de uma terra sempre seca, presságio que não vi.
Assim como não vi quem foi que engasgou com o dia, ou com o tempo.
Primeiro de janeiro, e há no ar os anos que não irão jamais passar,
um cheiro que não te pertence e me pertence e me foge.
No guichê me pedem que aguarde, e para isto os guichês foram feitos:
para tirar a senha, adivinhar a hora do atendimento que virá.
Tudo é hora, mesmo o que se pensa fora dela.
O doutor de branco diz que não é nada.
Que observemos. Como se ainda houvesse algo para juntos observarmos.
Não há. Houve. Ou não houve, e volto para casa por um caminho comum
apenas pelo íngreme de um morro, terra, a visão negra do lago abaixo?
E olho o negro do lago abaixo, que logo cederia sua cor ao sentimento.
Olho tudo que foi, até que escolho não olhar mais nada.
Zé Eduardo, 4/11/2007
Subscribe to:
Posts (Atom)