"Time present and time past
Are both perhaps in time future,
And time future contained in the past"
(T.S. Eliot, Burnt Norton, The Four Quartets)
Noite no hospital.
Mariposas teimam em se fragmentar contra as vidraças.
O ar úmido de uma terra sempre seca, presságio que não vi.
Assim como não vi quem foi que engasgou com o dia, ou com o tempo.
Primeiro de janeiro, e há no ar os anos que não irão jamais passar,
um cheiro que não te pertence e me pertence e me foge.
No guichê me pedem que aguarde, e para isto os guichês foram feitos:
para tirar a senha, adivinhar a hora do atendimento que virá.
Tudo é hora, mesmo o que se pensa fora dela.
O doutor de branco diz que não é nada.
Que observemos. Como se ainda houvesse algo para juntos observarmos.
Não há. Houve. Ou não houve, e volto para casa por um caminho comum
apenas pelo íngreme de um morro, terra, a visão negra do lago abaixo?
E olho o negro do lago abaixo, que logo cederia sua cor ao sentimento.
Olho tudo que foi, até que escolho não olhar mais nada.
Zé Eduardo, 4/11/2007
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