Eu te amo com a contrição de quem ora
em uma catedral revestida de silêncio
cujos vitrais jogam sobre mim a luz
que permanece quando parto.
Eu te amo com a propriedade dos que sabem
que nada podem possuir.
Eu te amo como quem te entende e não te entende.
Eu amo o território que me trazes,
bela e aturdida manhã, mesa sem pães mas com o alimento
de nossa fala amorosa.
(Tua pele é a pedra onde as armas se afiam,
testam o corte nas entranhas nossas.)
Eu te amo como quem sai à luz
vindo do fundo de uma caverna.
Eu me cego do brilho com olhos desprotegidos -
de que outra maneira te olhar assim tão de repente?
Eu fecho os olhos forte como menino depois do pesadelo,
e ainda tua imagem permanece umedecendo minhas retinas.
Eu te amo antes e depois de tudo isso,
com os ecos dos cânticos que chegam a mim em
forma de urbana algaravia.
Você é paredes, grafitti, todas as intervenções de todos os artistas,
você é a mulher que vai pintando seu caminho como cães mijam nos postes.
É você quem espalha seu cheiro, mas espalha pra si mesma
como uma capa brocada tecida em seu mais extremo distrair.
É em você que coisas se fazem por si mesmas,
mas não sem ter antes experimentado seus aromas como guias.
Você é a mulher do presente.
Eu te amo assim, eu amo teu fluxo incontível.
Eu te amo assim, peremptoriamente.
(zé eduardo)
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