Wednesday, June 20, 2007

Nunca



















Impossível, não. Altamente improvável,
essa mania de matemáticos de ver o mundo.
Impossível, sim. Quero dizer, nunca.
Como lutar com o poema que não vem.
Não é dia, não é hoje, tudo foge de valer a pena
e nada se escreve, palavras vazam deste lugar nenhum,
purgatório onde os sentimentos se condenam a esperar,
inferno abaixo, nuvens toldam acima o paraíso,
nada ferve, nada enregela
nesta tepidez do coração na entropia.
Nem há ondas nesta placidez de lago que treme apenas quando a pedra racha a superfície,
espelho d'água a rebater céus excessivos,
máquinas mortas em obras paradas,
tijolos inúteis em paredes mudas,
parcelas vencidas no carnê atirado ao lixo,
marfim dos elefantes abatidos
nas teclas dos pianos fechados
cobertos por tecidos desbotados
onde o pó se assenta neste não mais varrer,
manchas que se espalham qual lesmas nos muros
que viram um dia um florescer de cores
fossem ainda palmas e cravos de defunto,
mesmo assim flores, desgarradas e crepusculares,
muros cinzas como os viúvos da vida,
seguros vencidos à espreita do sinistro.

...

Um punhal corta impune o tecido da noite.

(zé eduardo)

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