Saturday, March 03, 2007
Cheiro
Estou impregnado por teu cheiro
que não sai de mim quando me lavo,
como sangue sob as unhas nos abatedouros.
(Sombras surrupiam almas que, perdidas,
vagam sem saber da perdição
e julgam ter a dor de ainda existirem.
Tráfego silencioso de lamentos,
névoas dispersas nos barrancos
onde o mundo acaba.)
Estou contaminado por teus olhos,
que não me abandonam quando fecho os meus,
como as marés que seguem para sempre as luas.
(Trevas descem sobre as águas,
ondas sem lembrança de onde um dia houve luz.
Trânsito doloroso dos sinais,
farois que não evitam naufrágios.)
Estou tomado por teus pelos
que não desgrudam de meu corpo
como pétalas que brotam e ficam até a queda,
que não chega nunca.
(Movimento tenso de corpos
aos quais a morte chegou despercebida.)
Te prego nas paredes,
penduro e despenduro teus retratos,
até a hora em que perco tudo e durmo.
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