Sunday, March 18, 2007

É Tão Cedo




















É tão cedo, que lá fora
É quase ainda escuro.
Nem os pássaros tateiam a surda madrugada.
O guarda da noite se foi
mas ainda não há quem guarde o dia.
As folhas ficam nas calçadas
alheias a uma brisa
que mal a si mesmo movimenta.
E de tantos sonhos em tantas casas
partem ancestrais, mundos ermos, fantasmas do passado,
toalha em uma mesa no centro de uma sala,
bola de gude, a mãe e o pai mortos,
duas criancas sentadas quietas em um sofá no canto,
sombras invadindo a bruma sem cerimônia.
….

Num piano em uma sala notas querem romper da partitura,
soluços prestes a arrebentar.
Mas não. É tão cedo, que lá fora
tudo ainda continua quase escuro.
Deixem que durmam os corpos largados nos colchões,
lassidão abandonada em branca alvura.
Deixem, assim: os corpos não se tocam,
aqui uma perna se enfia no meio de outras duas,
ali um braço abraça um seio,
mas os corpos não se tocam porque as almas dormem.
Ou melhor, não dormem, apenas restaram ausentes,
e mesmo no amor ficaram agora ausentes
como buraco negro no céu
que traga toda energia
em sua enorme e estelar voracidade.
(Eu durmo só em minha cama.
Algum bicho ruim levou minha amada embora.)

………

Tarda a alvorada em meu peito tardio.

(zé eduardo)

1 comment:

  1. Hummmm... é tão cedo para recomeçar uma história, para recompor os espaços ou para preencher os vazios... é tão cedo!
    Mas o dia vai chegar. Mesmo que dure uma eternidade, vai chegar. E, com ele, sobressairá mais um capítulo da história.

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