Friday, March 09, 2007
Cinza
Há um cinza uniforme sobre tudo,
poeira sobre a mobília
na casa subitamente abandonada.
As janelas batem com o vento
e a umidade cuida de apodrecer
as coisas com as quais ninguém mais se preocupa,
cuja própria existência quem um dia delas soube se esqueceu.
Todos se foram em silêncio
sem nem deixar qualquer memória.
Há um cinza uniforme sobre a alma
que não sabe mais que corpo habitar.
Há uma cinza uniforme no coração
que bate solitário e sem eco
enquanto um outro coração quer amar
mas olha para o luto e a perda
e não quer tirar as bandagens
para não expor à luz a cicatriz.
Há um cinza uniforme sobre o corpo
que não pode partilhar seus desejos
tenta criar um contato e depara com a refração,
um pedido para que ele, alma e coração
esperem, esperem,
um dia que quem sabe virá,
quem sabe poderá não vir,
desacontecimento rompendo círculos
para tangenciar a vida e espirrar
como cometas espirram
no choque do calor da atmosfera.
Há um cinza uniforme sobre tudo
que o dia cinza reluta em disfarçar.
Há um choro atrás da porta,
um trinco e uma chave,
há um grito sem repercussão.
Há um homem que caminha na chuva e sente frio
e que quer varrer dos ombros
o peso de sua condição.
(Zé Eduardo)
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Bate, bate, bate, coração
ReplyDeleteDentro desse velho peito
Você já está acostumado
A ser maltratado, a não ter direitos
Bate, bate, bate, coração
Não ligue, deixe quem quiser falar, ah!
Porque o que se leva dessa vida, coração
É o amor que a gente tem pra dar, oi!
Tum, tum, bate coração
Oi, tum, coração pode bater
Oi, tum, tum, tum, bate, coração
Que eu morro de amor com muito prazer
As águas só deságuam para o mar
Meus olhos vivem cheios d'água
Chorando, molhando meu rosto
De tanto desgosto me causando mágoas
Mas meu coração só tem amor, amor!
Era mesmo pra valer, ê
Por isso a gente pena sofre e chora coração
E morre todo dia sem saber
Elba Ramalho
(Cecéu)