Friday, March 23, 2007

Minha Casa
















Hoje minha casa habita dentro de mim
e eu a levo comigo como um caramujo
que se recolhe no aconchego.
A minha casa não é deserta:
é povoada de seres, ancestrais, mitos, amores.
Na minha casa não me faltam o alimento e a poesia e a música,
que fluem de suas paredes porque são parte dela,
assim como são partes de mim meus braços, minhas pernas,
minhas sobrancelhas arqueadas em pensamentos.
Não, a minha casa não tem paredes.
É generosa, minha casa,
e dá acolhida àqueles que dela se aproximam
com um ramo de flores nas mãos
como mais um tributo a meu jardim.
Minha casa não recebe quem não quero
e nem quem a mim não queira.
É honesta e simples e limpa
como se fosse toda caiada de branco,
e todos retratos nas paredes doces e eternos.
Na minha casa não há tempo, ganho ou perdido.
Há apenas espaço para os movimentos do meu coração.
Em minha casa as pessoas deixam os sapatos à porta
porque gosto que elas pisem em um chão
sem nada de entremeio.
O material de que minha casa é feita é a vida,
que cultivada durará muito além dela mesma.

(zé eduardo)

4 comments:

  1. "Minha casa mora em mim".
    Escrevi isso há mais de 10 anos, em uma época de muita liberdade.
    Hoje não diria mais isso; a casa cresceu.

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  2. Puxa, anonymous, que pena a anonimidade.
    A minha casa acho que encolheu e com o tempo vai ficando menor e mais essencial.

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  3. "Minha Casa" tem o "cheiro" do que elegemos como essência. Tem um toque de suavidade, de vontade, de segurança quanto ao que se deseja, de postura diante da vida. Sua construção exigiu empilhamento de experiências.

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  4. Que bela casa Zé, quero visitá-la.

    Tás escrevendo cada vez melhor!

    Como diria meu pai: "Continue escrevendo, o mínimo que pode acontecer é você melhorar a caligrafia" ( hoje eu colocaria digitação no lugar de caligrafia ).

    Saudade do amigo.

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