Sunday, March 04, 2007

É Como se Toda a Poesia se Fosse



















É como se toda a poesia se fosse,
qual barco que esqueceu-se nos sargaços,
névoa onde bóiam fantasias.
Não há ecos, rochedos, e a vista, toldada, nada vê.
As sereias estão além das brumas
e mesmo seu canto não chega
a esta quietude indesejada.
Não há ondas, faróis, horizonte,
Num terreno onde o silêncio reverbera em si mesmo
e morre.
Fogo fátuo que os espíritos guia,
da à nau um caminho nos destroços.
Vento que sopra das cenas tenebrosas,
enfuna esfarrapadas velas para um porto.
Não posso ficar aqui onde ninguém ouve meu canto.
Não quero, trancado em paredes invisíveis,
Ver minha alma definhar como definham
marinheiros nos desertos tombadilhos.
Dai-me uma musa, um sopro que seja,
um alento, um sinal.
Queima o óleo de finita lamparina.
Logo mais tudo será escuridão.
Fulgura, brilho tênue da tristeza,
Transforma-te em archote que mãos cansadas levarão
À terra firme onde um outro eu me aguarda.

Repercute e multiplica, solidão,
para que, todas companheiras,
as vozes que em mim gritam
possam enfim compor uma ode triunfal.

(zé eduardo)

5 comments:

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  2. Há um conto de machado de assis que fala sobre um compositor de modinhas.

    Suas modinhas eram as mais escutadas em todas as partes, seja qual for o lugar por onde passava, sempre ouvia alguém cantarolando.

    Quando ia as festas, todos pediam, por favor, toque tal modinha.

    Mas, no fundo, sofria.

    O seu maior desejo era compor, era a sua alegria. Mas, por mais que se esforçasse, por mais que fosse o mais escutado de todos, nunca chegara nem aos pés de Mozart ou Beethovem.

    No final, ele mesmo iria se esvair assim como suas modinhas se esvaiam uma após a outra.

    No fim, morreu só.

    É triste a história, mas nos faz pensar em nós mesmos.

    Quanto a sua indagação. Acredito realmente no que disse. E mais, não acho que seja poética a palavra e sim criativa.

    Infelizmente, somos tomados pela mente e nos afundamos em uma nuvem de razão.

    Atingir esse estado criativo, poético, é alcançar a nossa alma.

    Felicidades! Obrigado pela visita.

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  3. lindas poesias, zé eduardo. geralmente associo as poesias que leio a uma música, ou ritmo, ou cena.
    essa me trnsportou para o convés de um navio. engraçado.

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  4. Anna,

    O convés do navio eh um insight muito poderoso. Uma pessoa, medico homeopata, uma vez me perguntou o que acontecera num cruzeiro de navio, que foi um divisor de águas na minha. eu penso, penso, e nunca encontro a imagem.

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  5. Samambaia,

    Essa questão do estado criativo e a alma daria horas de conversa. estou lendo sobre isso no momento.

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