Sunday, June 01, 2014

Para Clodoaldo Mendonça, meu pai

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Em tudo o que eu faço, e que importa,
reina soberana sobre mim a alma de Clodoaldo Mendonça, meu pai.
Os caracteres traçados a pena de uma maravilhosa escrita gótica alemã,
os filmes de Tom Mix, o cineblube operário da esquina
onde deslumbrado vi o primeiro cinema da minha vida (e era como sempre dele veio, a fábula moral, a legião francesa em pano de fundo),
a curiosidade a me perseguir desde menino, este querer saber tudo
porque afinal de contas saber tanto é de alguma forma uma forma de eu me redimir,
os jogos de damas com suas permutas tão mais rápidas e vastas que o saber inútil do xadrez (um afazer de preguiçosos),
as melodias, tantas, músicas tecendo o coser do que viria a ser quem eu seria, Zézinho, Zébedeu, filho,
os dias tantos, pobres, famintos, embora nunca faltos,
porque neles se sinalizava esta ordem de importância
na qual a poesia sempre vem primeiro,
afinal o saber que onde ando será sempre um desafio, trilha desde sempre nova,
comunhão com tudo que é humano.
Eu saúdo você, meu pai,
eu inutilmente peço que você volte e choro a escrever neste anódino teclado,
tentando com tão frágeis dedos desvender a sua herança e a sua força.

23.12.2012

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