Sunday, September 10, 2006


Como nos sonhos,
Detrás do rosto que nos olha não há ninguém.
Anverso sem reverso,
Moeda de uma só efígie, as coisas.
Essas misérias são os bens que o precipitado tempo nos deixa.
Somos nossa memória,
Somos este quimérico museu de formas inconstantes,
Esse montão de espelhos rotos.
(J.L. Borges)



Escrevo em um computador, mas meu coração está sempre em minha olivetti lexington 80, no tec-tec que irrompia madrugadas, eu garoto escrevendo meus contos, traduzindo os primeiros livros, sempre certo de que haveria um amanhã. Mas estas formas inconstantes, esse montão de espelhos rotos, e a constatação de que a olivetti, embora exista - tenho uma em meu quarto - não mais será batucada, de que aquela intimidade que jorrava de meu datilografar de oito dedos agora quer se examinar e reexaminar antes de sair de seu poço num baldinho puxado por uma corda tornada muito longa.

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